Madie a desaparecida mais famosa do mundo
Alexandra Serôdio
Um ano depois, mantém-se o mistério que envolve o desaparecimento de Madeleine McCann, de um apartamento do Ocean Club, na praia da Luz (Lagos). A investigação continua assente em provas indirectas e vai correndo ao sabor da burocracia, mas também do tempo e da vontade de várias entidades ingleses que têm colaborado com a Polícia Judiciária (PJ).
Se, de facto, a menina inglesa de olhos verdes morreu no apartamento - como os indícios apontam -, a verdade é que ainda não surgiu aquilo que os investigadores pensam ser a prova fulcral o cadáver. A ausência do corpo tem impossibilitado o total esclarecimento do caso, por parte da PJ, e permite aos McCann continuar a alimentar, como ontem reafirmaram, em Londres, à Imprensa, a ideia de que a filha está viva e que foi vítima de um sequestro.
Os investigadores, por outro lado, continuam sem conseguir descortinar ao certo o que realmente aconteceu no Ocean Club, entre as 18 horas - ocasião em que Kate entra no apartamento com os três filhos - e as 22 horas, quando é dado o alerta do desaparecimento de Madeleine. Os depoimentos de Kate e Gerry e dos sete amigos que com eles jantaram no restaurante Tapas são contraditórios. E os McCann continuam sem responder a perguntas que a PJ considera essenciais para o avanço da investigação. Um silêncio apenas quebrado pelos inúmeras entrevistas que vão dando - a última foi dada ontem ao JN -, e nas quais nada é dito de novo sobre o que aconteceu na noite de 3 de Maio do ano passado.
Diligências em curso
Há outros testemunhos e outras provas documentais que vão ajudando os inspectores a dar pequenos passos, mas a resolução do mistério, para muitos, parece estar ainda longe de acontecer.
A verdade é que nunca um desaparecimento de uma criança captou tanto a atenção do Mundo, nem foi alvo de tantas intervenções políticas. O primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, chega a ter diálogos sobre o caso com o seu homólogo português, José Sócrates.
A última conversa ocorreu um mês depois de Kate e Gerry terem sido constituídos arguidos - por suspeita de ocultação de cadáver e simulação do crime de sequestro - e veio demonstrar as poderosas ligações do casal em Inglaterra. Um país onde jornais e jornalistas se viram obrigados a pagar chorudas indemnizações e a pedir desculpas públicas por notícias sobre o casal e o seu envolvimento no caso.
Um ano depois do desaparecimento de Madeleine, a própria imagem da PJ continua a estar posta em causa, sujeita a ameaças mais ou menos veladas oriundas do Reino Unido. Os investigadores, e a sua vida pessoal, passaram a ser escrutinadas pela Comunicação Social. O exemplo mais flagrante foi o do ex-coordenador da PJ de Portimão, Gonçalo Amaral, criticado pelos seus hábitos de vida pessoal e pelo envolvimento num processo por alegada tortura sobre Leonor Cipriano.
As caras da investigação foram mudando - Paulo Rebelo é o novo responsável -, os métodos também, mas na verdade poucos passos foram dados. As cartas rogatórias demoraram cinco meses a ser cumpridas e a dias do início das inquirições pela Polícia de Leicester já os ingleses sabiam das diligências que a PJ pretendia efectuar. Dos novos depoimentos recolhidos pouco se sabe, mas a manterem-se as contradições, a PJ fica novamente refém de resultados laboratoriais que teimam em não chegar.
Um ano depois, o mistério envolve a menina desaparecida mais famosa do Mundo.